Judeus no mundo

TURQUIA


A primeira referência judaica à Turquia é a Torah. No Gênesis, a arca de Noé pára sobre o Monte Ararat, para que desçam os tripulantes da arca. Este monte se localiza na Turquia dos dias de hoje. Além disso, os rios Tigre e Eufrates nascem neste país, nas Montanhas Taurus.

 

Há evidências arqueológicas e citações bíblicas que sugerem que já no século IV a.E.C, judeus habitavam a região da Anatólia. Tais evidências foram encontradas em Sardis, Éfeso, Smyrna (Ízmir) e Pérgamo, Bursa e Ankara.

 

Há pouca informação sobre a comunidade judaica durante a dominação romana e bizantina, mas acredita-se que a comunidade era relativamente bem integrada à sociedade e que gozava de certas imunidades legais. O imperador Justiniano tentou converter os judeus para o cristianismo (religião oficial do império bizantino) à força, mas não teve sucesso.

 

Quando os turcos otomanos, uma tribo invasora da Ásia Central, chegou à Anatólia, eles encontraram uma comunidade Romaniota (rito judaico bizantino) oprimida em Bursa, cidade que conquistaram em 1324 e que se tornou sua capital. Os judeus acolheram os otomanos como salvadores. A comunidade de Istambul, apesar de proibida de morar na cidade, era rica, composta por dois mil judeus e quinhentos karaítas.

 

Durante o fim do século XIV e início do século XV, à medida que os Otomanos avançavam em direção a Istambul, judeus expulsos da Hungria, da França e da Sicília se refugiaram em seus domínios. A eles se juntaram também judeus que fugiram de Thessaloniki (Salônica), então sob domínio veneziano.

 

Em 1453 o Sultão Mehmet II tomou Constantinopla, evento que marca o fim da Idade Média. A dominação otomana era mais proveitosa para os judeus do que a bizantina. Os judeus eram protegidos pelo estatuto da Dhmmis (aplicado a não-muçulmanos que pertencessem aos povos do livro – judeus e cristãos), que os relegava a cidadãos de segunda classe, mas garantia sua vida, direito de propriedade e direito de culto. Os pagãos sofriam restrições muito maiores.

 

Em 1470, judeus expulsos da Bavária estabeleceram-se na Turquia. Em 1492, Cristóvão Colombo zarpava do porto de Palos, um porto não tão importante quanto os de Cadiz e Sevilha. A utilização destes dois últimos, no entanto, era impossível, visto que eles estavam cheios de judeus expulsos da Espanha pelos reis católicos.

 

Neste momento, o sultão Beyazid II, governador do Império Otomano, convidou todos estes judeus a se estabelecerem em suas terras. Atribui-se a ele a frase "O rei espanhol Ferdinando é erroneamente considerado um sábio, pois com a expulsão dos judeus, empobreceu o seu país e enriqueceu o nosso".

 

Dos 200.000 judeus expulsos da Espanha, a maioria foi para a Turquia. Com a chegada destes sefaradim, a comunidade bizantina foi absorvida, deixando de praticar o rito romaniota.

 

Os judeus encontraram seu espaço em certas profissões que os muçulmanos não tinham interesse em fazer – eles preferiam se dedicar às atividades militares, políticas e religiosas - e nas quais os cristãos dos territórios recém conquistados não eram tidos como confiáveis. Trazendo sua experiência mercante e algumas inovações, como a prensa tipográfica, constituíram a classe média do país.

 

Em 1454, o rabino Yitzchak Sarfati convidou os judeus da Europa a virem para a Turquia, aonde as condições eram muito melhores. Com o tempo, a população judaica na Turquia chegou a 200.000 habitantes, contra apenas 65.000 na Europa. Eles se assentaram principalmente nas cidades de Istambul, Sarajevo, Salônica, Adrianople, Nicopolis, Jerusalém, Safed, Damasco, Cairo, Bursa, Tokat, Amasya e, mais tarde, em Smyrna. A população judaica em Salônica cresceu tanto que os judeus tornaram-se maioria na cidade. Esta cidade se tornou o centro da vida judaica sefaradí. Outros centros importantes foram Smyrna (renomeada Ízmi), Istambul e Safed (Tzfat, em Israel).

 

No século XVI, os judeus expulsos da Bohêmia chegaram ao Império Turco-Otomano. Judeus expulsos de Apulia, na Itália, que caíram sob domínio do Papa foram resgatados pelo Sultão Suleiman, o Magnífico, que escreveu uma carta ao Papa, exigindo sua liberação. O Papa cedeu, visto que o Império Turco Otomano era uma grande potência da época.

 

Tu B’Shevat (ano novo das árvores) foi desenvolvida no século XVII em Ízmir. O criador pode ter sido Shabbetai Zvi, o falso messias.

 

Os judeus foram proeminentes na medicina da corte (A Sublime Porta, nome poético da corte otomana), na diplomacia e como conselheiros e ministros da corte.

 

A situação dos judeus, no entanto, não tinha bases sólidas e dependia da simpatia dos governantes. Com o passar do tempo e o declínio do Império Otomano, a situação dos judeus piorou. Ainda no século XVII, judeus ashkenazim foram massacrados, e árabes destruíram a cidade de Safat, o governador árabe de Jerusalém (que havia comprado o cargo) perseguiu seus habitantes judeus e os judeus do Yemen foram banidos para o Deserto de Mawza (mas este foi um evento breve).

 

No Império Otomano, a literatura judaica revigorou-se. Um importante centro cabalista se firmou em Tzfat. Foram escritas obras como o Shulchan Aruch e a canção Lechá Dodí, cantada até hoje por sefaradim e ashkenazim.

 

A situação no século XVIII seguiu a tendência de piora em função do declínio do Império, muito porque a Turquia não participou da Revolução Industrial, fazendo com que sua produção estagnasse.

 

No século XIX, surgiu no Império Turco-Otomano, um processo de modernização. Criaram-se escolas laicas e a cidadania foi oferecida a todos os cidadãos do império, muçulmanos ou não. É interessante saber que o Sultão Abdulmecid, no ano de 1840 declarou que a acusação do libelo de sangue (uso de sangue humano para fazer matzot) era falsa e que os judeus não podiam ser atormentados por causa de uma acusação da qual eram tão evidentemente inocentes.

 

Com isso, instituições judaicas mais modernas chegaram à Turquia, como a Alliance Israélite Universelle. Neste século, assim como na Europa, cresceu o sentimento nacionalista entre os povos. As minorias do Império Turco-Otomano quiseram, então, libertar-se do Sultão e ter seu próprio estado (ou voltar a tê-lo). Os gregos e os armênios, por exemplo, se revoltaram. Estes dois povos, no entanto, só recuperaram sua independência durante e após a Primeira Guerra Mundial. Os judeus, como não participaram de movimentos revolucionários, adquiriram a confiança dos turcos e obtiveram alguns privilégios.

 

No início do século XX, havia 400.000 judeus no Império Otomano. Destes, 100.000 moravam apenas em Istambul.

 

Os judeus tinham uma variedade de pontos de vista sobre seu papel na Turquia. Antes viviam em comunidades fechadas, mas agora participavam mais ativamente da vida pública. As opiniões iam desde o Sionismo ferrenho até o pensamento comum na época de que eles eram turcos primeiro e judeus depois. Um judeu, Emanuel Karasu, foi membro fundador dos Jovens Turcos, grupo de estudantes militares que liderou um golpe contra o sultanato, em 1913. Outro membro proeminente foi Tekin Alp, nascido Moise Cohen. Os Jovens Turcos lideraram o país durante a Primeira Guerra Mundial e são tidos como responsáveis pelos Genocídios Armênio e Assírio, especialmente o triunvirato que efetivamente governava a ditadura que se instalara: Ismail Enver Pasha, Ahmed Djemal Pasha e Mehmed Taalat Pasha, conhecidos como “Os Três Pashas”.

 

Depois do fim da Primeira Guerra Mundial, em 1923, o general Mustafá Kemal Atatürk, liderou o movimento que ocasionou o estabelecimento da república no país. Uma constituição secular foi adotada.

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Turquia conseguiu manter sua neutralidade. Atatürk convidou muitos professores e estudiosos judeus a se estabelecerem na Turquia, o que ajudou a formar o sistema de educação universitária do país. Enquanto a comunidade judaica grega foi quase destruída pelos nazistas, os judeus turcos permaneceram a salvo. Muitos diplomatas turcos se esforçaram para garantir que os judeus turcos em outros países fossem poupados e conseguiram. Um deles, Salahattin Ulkumen, cônsul em Rhodesm foi reconhecido como um “Justo Entre as Nações” pelo Yad VaShem.

 

Os problemas financeiros e a política não tão boa de Atatürk (por causa de seu grande secularismo, ele baniu qualquer entidade com ligações internacionais, como as organizações sionistas B’nai Brith a Organização Sionista Mundial) fizeram com que um quarto da população judaica emigrasse para os EUA, França e Canadá entre 1948 e 1980. No mesmo período, metade da população emigrou para Israel.

 

Em 1934 houve um pogrom contra os judeus e outro em 1955 contra judeus, gregos e armênios. Em 1942, foi criado um imposto sobre a riqueza que afetou muito os não-muçulmanos, apesar de eles o pagarem, também.

 

Hoje em dia, existem entre 18.000 e 26.000 (estimativas variam) judeus na Turquia, sendo que a maioria mora em Istambul (90%) e a única outra comunidade forte é a de Ízmir.

 

A Turquia reconhece Israel e foi um dos primeiros países muçulmanos a fazê-lo. As relações diplomáticas entre os dois países são geralmente boas e há acordos de cooperação econômica e militar entre eles, como a construção de gasodutos e oleodutos que tragam estes produtos da Turquia para Israel. Algumas pessoas alegam que agentes do Mossad baseados na Turquia se infiltraram no Iraque e organizaram revoltas curdas para enfraquecer o governo Iraquiano. Agora, em 2007, com a invasão americana do Iraque, isto deve ter mudado.

 

Em 2003 houve dois atentados terroristas em Istambul. Em 15 de novembro, caminhões carregados de explosivos detonaram em frente às sinagogas Beth Israel e Neve Shalom, matando 27 pessoas e ferindo 300. Apenas 6 judeus morreram, mas as sinagogas foram devastadas. Cinco dias depois, mais dois caminhões-bomba, detonados por terroristas suicidas, explodiram em frente a uma agência do HSBC e do Consulado Britânico, matando 30 pessoas e ferindo 400. Novamente, a maior parte das vítimas era de Turcos Muçulmanos.

 

Mais tarde, a Al-Qaeda responsabilizou-se pelos ataques e a maioria das opiniões concorda que foram eles que realizaram os atentados. Muitas pessoas foram julgadas e presas em conexão com os atentados.

Opera na Turquia um snif do Habonim Dror.